terça-feira, 17 de maio de 2011

Carla Nobre- Poeta Amapaense

Ela é mulher,....mãe, professora,...É impossível não admirar suas poesias, possui uma excelente sintonia com as palavras. Que tal iniciar o conceito de poesia na sala de aula com Carla Nobre?
Acompanhe abaixo!

Um homem, os garis e uma casca de laranja

Um Homem de Terno ia apressado pela rua
Colocou a mão no bolso para pegar as chaves do carro
Mas que surpresa desagradável:
Haviam dois garis brincando de pega-pega perto de seu carro
Um deles chupava uma laranja
E quando terminou jogou sorridente a casca no amigo
Que azar:
A casca caiu no carro do Homem de Terno
E ele, nervoso e dono de si,
Começou a gritar
Cuspindo-se de tanta raiva:

“Um gari sujou meu carro do ano
com uma casca
de laranja
suja e imunda
uma casca
em meu carro limpo
que ainda cheira a novo
e o gari
sujou meu carro
brincando de pega-pega
com um amigo
também gari
Um gari brincando
Nem sabe o seu lugar
Um gari que tem amigo
Nem sabe o seu limite
Um gari e uma casca de laranja
Atrapalharam minha tarde
Grito
Esbravejo
Acho que mando bem o meu recado
De doutor
E de senhor
Sou de família tradicional
Tenho uma bela casa
E salário digno e polpudo
No fim do mês
O gari é só uma roupa berrante
Eu e meu carro
É que enfeitamos a cidade
O gari é quase parte
Do objeto lixeira
E
Vassoura
O gari não tem voz
E fica calado
Diante dos gritos da minha razão
O gari é mesmo quase parte íntima
Do próprio lixo que cata
O gari nem se enxerga
De tão pequeno e fedido
Eu e meu carro
É que damos sons verdadeiros e belos para a cidade...”

Mas então,
Diante dos gritos do Homem de Terno,
Os garis saíram de perto do carro do ano
Esquecendo a brincadeira
E a casca de laranja
E o homem continuava falando e falando:

“Fedido gari
Gari que não se enxerga...”

Ia falando e conferindo
Cada detalhe do seu carro
Verificava se os garis não tinham causado
Danos maiores
Foi então
Que com sapato brilhante
O homem falante, falante
Acabou escorregando na casca de laranja
Esquecida pela sua gritaria
Foi um tombo grande
Bem grande
Do tamanho da sua arrogância


E ninguém, riu do tombo do homem

E ninguém se apiedou do tombo do homem


O homem ficou só na rua
Sujo do próprio tombo


O homem e a sua arrogância.


Referência:http://www.carlapoesia.recantodasletras.com.br/visualizar.php?idt=158865

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